Conheça Camilla Wolter e Júlia Chindler: as amigas apaixonadas por antiguidades.
Camilla, advogada, e Júlia, psicanalista, se conheceram pelo instagram. Naquela época, as duas estavam mobiliando suas casas e seguiam da mesma concepção: “o que a gente precisa já existe e desse modo, tínhamos um olhar atento à matéria prima do objeto, valor e unicidade das coisas." nos conta Camilla.
Como a Casa Era nasceu?
Um dia saímos juntas para garimpar e achamos muita coisa que não caberia mais na nossa casa, mas eram lindas e significantes demais pra ficarem perdidas, então lançamos uma pequena pesquisa entre amigos (se eles se interessariam, como prefeririam as vendas etc). Em uma segunda-feira, setembro de 2020, catalogamos, higienizamos, fotografamos e lançamos a primeira coleção às 19h. Meia hora depois tínhamos vendido tudo.
"A casa Era nasceu sem pretensão. Não é apenas vender! Acredito que podemos incentivar as pessoas a escolherem melhor seus objetos pensando quanto a matéria prima, impacto ambiental e valor."
"O comércio de antiguidades no Brasil ainda habita um imaginário de coisa velha, suja, antiquada e predominantemente masculino. Apesar do ambiente doméstico ter sido imputado à mulher, o comércio desse ambiente doméstico circula entre os homens. Desde as corporações de varejo aos escritórios de arquitetura. O dinheiro não circulava em mãos femininas, mas isso tem mudado. Por exemplo, as atividades de marcenaria, tapeçaria e transporte são majoritariamente guiadas por homens. Aos poucos tive que pessoalmente ir aprendendo sobre logística, madeira e varejo. Mas, é aquilo: ter que buscar a excelência de uma atividade para não ser subjugada é cansativo, mas isso está mudando."
Sobre começar a garimpar, por Camilla:
Eu diria pra gente começar garimpando na casa da nossa família e retrocedendo na nossa memória. Começar por dentro é sempre o melhor início. Hoje o instagram se tornou uma plataforma de vitrine de inúmeros negócios de segunda mão, vale a pena caçar online.
Como é o processo de inspiração de vocês?
Nada do que foi criado deve ser ignorado, nada escapa dos meus olhos. Hoje, semanalmente, vou ao museu e estou sempre por dentro do que tem acontecido na cidade e isso inclui supermercado, bares, mercados municipais. Apesar da Casa Era ser referenciada como uma empresa para ambiente doméstico, toda a inspiração que temos de criação sobre ela vem da rua. Na rua tem gente e a gente é a coisa mais sagrada, porque objeto não é nada sem gente, é só objeto, sem vida.
A inspiração é um exercício de tiro ao alvo em que só é atingido quem não tem medo. É um exercício de vulnerabilidade e desmoralização de si mesmo porque a inspiração é sobre a gente, mas sobre o outro e o quanto eu me deixo atingir.
Sobre coisas palpáveis que revisito sempre pra me inspirar, vou deixar as últimas coisas que passei os olhos: Documentário A Entevista (1966) da diretora brasileira Helena Solberg. Estudar cinema ajuda bastante na construção de imagem, visto que hoje o canal de vendas é uma rede social de imagem.
Também tenho como filme favorito “Amarelo Manga” (que eu lembre 2002 ou 2003) do Cláudio Assis. Quanto a fotografia, garimpei recentemente o livro “Os Sertões” da Maureen Bisilliat e reli dia desses a biografia “Inconfissões” da Ana Cristina Cesar. E, claro, Claudia Andujar e a obra completa. Tenho uma revista de literatura com a clarice lispector estampada na capa com a foto tirada pela Cláudia e até hoje sinto a mesma sensação fora de eixo que tive quando passava pela banca de jornal.
Para todas as mulheres:
"Se eu pudesse falar algo a todas as mulheres: não somos uma instituição e não devemos prestar contas. O nosso corpo e mente devem pertencer antes e tão somente a nós mesmas. E nunca, nunca, nossas ideias são irrelevantes e aprender a executar nossas próprias ideias é um caminho de autonomia."
Conheça mais sobre a Casa Era aqui
Fotos em analógica por Júlia Amaral.