As mãos por trás da Camelo Cerâmica
Clarissa é uma ceramista talentosa, dona de um olhar sensível e inspirador. A Camelo começou de uma experiência subjetiva, surgindo da busca por algo que lhe trouxesse prazer fora do trabalho.
Hoje, Camelo se tornou um ateliê experimental, um fazer com as mãos, em que a Clarissa produz peças delicadas e afetuosas para todo o Brasil e em pequena escala.
"Uma luz que bate diferente, uma expressão
que aparece sem aviso. Aquele momento de espontaneidade
que quebra a rigidez me inspira."
Como a Camelo aconteceu?
A Camelo começou como uma experiência pessoal, veio da busca por algo que me desse prazer fora do trabalho. Desde o princípio meu objetivo era criar peças que eu queria no meu dia a dia. A Camelo não nasceu com o objetivo de ser um ateliê com produção externa, e sim uma maneira de experimentar e fazer o que eu gostaria de ver, usar, ter comigo. Quando comecei a compartilhar os resultados dessas experimentações, outras pessoas passaram a se identificar, e, assim, o ateliê ganhou um aspecto mais profissional. Mas sigo definindo a Camelo Cerâmica como um espaço de criação experimental.
O que encantou você nesse encontro?
O manuseio da argila é, por si só, apaixonante. O material é cheio de personalidade, o contato com a matéria é totalmente sensorial e te pede ritmo e escuta diferentes. Entre as inúmeras etapas que fazem parte da concretização de uma peça de cerâmica, existe um denominador comum que perpassa todas elas: o tempo. Não da para acelerar o tempo da argila. E essa conversa entre as mãos e o material é encantadora. Ver uma ideia se tornar um objeto palpável é mágico.
Como é o seu processo de criação das peças de cerâmica?
Tudo começa com uma imagem mental da peça inteira ou pedaços dela, seja formatos, texturas, fragmentos. As peças vão se mostrando no processo, a criação é paralela a construção do objeto. Na prática, o que acontece é que faço os desenhos a mão livre pra entender o que vai ser a peça, quais sentidos e direções ela vai tomar. Depois passo para os testes no material e então faço experimentações na argila. Depois da primeira queima essa peça é pintada à mão, e depois queimada novamente. Aí tenho a peça piloto, a número zero. Avalio o que pode ser melhorado em termos de design e funcionalidade. E repito o processo corrigindo detalhes aqui e ali.
Quais são os tipos de materiais envolvidos no ceramismo? Quais você usa?
A cerâmica é muito vasta e extremamente democrática, a verdade é que você consegue fazer uma peça com apenas água, argila e as suas mãos. São inúmeras possibilidades: torno, placas, moldes, belisco, corda. No meu trabalho utilizo as técnicas de modelagem manual com placas e construção de peças no torno elétrico, que são queimadas em temperaturas altas de até 1240° e pintadas à mão, peça por peça.
Quais artistas influenciam o seu trabalho na Cerâmica?
Muitos. Vou citar 3: Georgia O'Keeffe, e não apenas seu trabalho na pintura, mas, principalmente, os registros feitos na sua casa no México. A forma como ela vivia, a relação com o espaço, a própria casa, a cozinha, a forma como ela se vestia, as fotografias, enfim, todo aquele estilo de vida, sempre vem pra mim como formas de referências visuais muito presentes. Barbara Hepworth. Richard Serra.
Qual foi a maior dificuldade em tornar esse projeto realidade?
Insistência. Paciência. Aceitar o erro como parte do processo. Errou? Faz parte… hora de recomeçar do zero se for preciso, quantas vezes forem necessárias.
Já pensou em desistir ou mudar completamente tudo?
De dois em dois dias? rs - Empreender não é fácil. Mesmo. No dia a dia é muito mais sobre encontrar soluções e resolver pequenos problemas. Mas aí lembro que se eu não fizer por mim, ninguém vai fazer. Passei anos desenvolvendo projetos e entregando resultados para os outros. No fim do dia, fazer isso por mim mesma me parece mais recompensador. Aquela ideia meio maluca que volta e meia vem na sua cabeça: vale a pena insistir nela. Faça por você.
Conheça o trabalho da Clarissa na Camelo Cerâmica aqui