Elas: Paula Jacob
Conheça a jornalista que transcende os limites da palavra escrita. Com uma carreira marcada por flertes entre o cinema, a literatura e o jornalismo.
Paula Jacob é uma jornalista que transcende os limites da palavra escrita. Com uma carreira marcada por um constante diálogo entre o jornalismo, o cinema e a literatura, ela construiu uma trajetória única. Professora e pesquisadora, Paula examina formas de expressão sob a ótica da psicanálise e da semiótica, investigando como as narrativas visuais e textuais se comunicam com o inconsciente humano.
Sua jornada se iniciou nas revistas femininas, como Harper’s Bazaar, Vogue, Glamour e Claudia, escrevendo sobre temas culturais. Foi nesse ambiente que seu interesse por cinema e literatura floresceu, transformando-se não apenas em uma paixão, mas em uma busca intelectual e profissional. Ao assumir a posição de editora, Paula mergulhou ainda mais nas narrativas que povoam as telas e as páginas dos livros, encontrando ainda mais significado em seu trabalho.
Atualmente, Paula é professora no Museu da Imagem e do Som (MIS) e lidera um clube do livro-filme, onde os participantes exploram e debatem adaptações cinematográficas de obras literárias. Esse projeto reflete sua habilidade de navegar por diferentes formatos de comunicação, sempre buscando uma compreensão mais profunda das narrativas e de como elas são recebidas.
Para além do jornalismo tradicional, Paula se reinventa como contadora de histórias, experimentando e testando novas maneiras de conectar pessoas através de múltiplas linguagens. Para ela, a comunicação – seja ela escrita, visual ou falada – é o eixo central. Tudo se resume a como as narrativas são criadas, vividas e, principalmente, sentidas.
O que te inspira na vida e no trabalho?
Observar é um ato que me traz muito prazer. A vida, os movimentos, as ruas, as plantas, as pessoas, os costumes. Por isso, muitas coisas me inspiram, para além da literatura e do cinema. Gosto de ir a museus, assistir espetáculos de dança e teatro, ir a concertos. A arte em geral me toca profundamente, me emociono num lugar bastante específico, sensível. Lembro quando vi pela primeira vez uma obra do Jackson Pollock e do Mark Rothko, pintores que amo, em uma exposição sobre os expressionistas abstratos no MoMA, sentei no chão do museu e chorei. Era inacreditável ter meu corpo diante daquilo tudo.
Como você enxerga a relação entre arte e sustentabilidade?
Sinto que a arte, seja ela qual for, é um espaço de incômodo, pesquisa; um espaço de disruptividade que provoca e propõe outros caminhos. Unir esse pensamento ao propósito da sustentabilidade me parece um ganho, porque as propostas se complementam. Existem diversos artistas que trabalham com questões ambientais em suas obras, sejam elas performáticas, fotográficas, pictóricas. É um estudo do agora, da urgência do agora, que perpassa pelas expressões artísticas, invariavelmente. São denúncias que se escondem nas entrelinhas das criações, assim como as questões de gênero e raça. É mais uma grande pauta que permeia os ateliês – e que bom, sem os artistas não seríamos nada.
Na sua opinião, qual é a importância de apoiar e consumir marcas que se preocupam com causas socioambientais?
No mundo em que vivemos, toda importância. É impossível não refletir sobre a quantidade de coisas que se compra, a qualidade dessas peças e a vida "após uso" que se dá para ela. A indústria têxtil é uma das mais poluentes, fico assustada quando vejo vídeos sobre ilhas e regiões que recebem toneladas e toneladas de itens de vestuário descartados sem a menor responsabilidade socioambiental.
Para mim, que pesquiso semiótica, a moda é uma linguagem de signos e, portanto, também um espaço bastante potente de autoconhecimento. Sendo assim, quanto mais nos auto conhecermos, melhor vamos consumir também. Não há necessidade de consumo desenfreado, muito menos de marcas que prejudicam a natureza e a sociedade. Se unirmos o útil ao agradável, teremos uma solução mais prática para o nosso dia a dia, e também para o meio ambiente.
E sei que, às vezes, uma peça de roupa com certificação, produzida na lógica do slow design, com materiais de qualidade pode sair mais cara – até por todas as questões de taxas, impostos etc. Porém, a longo prazo, essa comparação de custo se perde com a mesma rapidez que determinadas compras são descartadas. Apoiar marcas responsáveis é também fazer da sua compra um ato de responsabilidade.
Existe algum livro, filme ou documentário que mudou a sua perspectiva sobre a vida ou o seu trabalho?
São vários, que foram importantes em momentos diferentes da minha vida. Um livro, com certeza, Frankenstein, de Mary Shelley. Ela tem uma escrita sensível e profunda, fala de coisas muito complexas a partir de uma história que também inaugura o romance gótico na literatura – tudo com apenas 18 anos de idade. Fico pasma com as articulações que ela criou, me fez entender o quanto as coisas aparentemente simples escondem mistérios profundos.
Pensando no cinema, Stanley Kubrick e David Lynch foram alguns dos diretores que me fizeram querer estudar cinema. São propostas bem diferentes entre eles, mas ambos usam as narrativas paralelas ao roteiro para contar histórias igualmente importantes àquelas faladas em cena. Por isso, fui buscar a semiótica, para conseguir entender essas imagens tão fortes na minha memória. Mas, de novo, são muitos livros e filmes e autores e cineastas relevantes para mim. Ingmar Bergman, Sofia Coppola, Virginia Woolf, Marguerite Duras… e a lista segue (risos).
Compartilha com a gente sua citação favorita?
Eu não costumo ser a pessoa que sabe de cor um poema ou uma citação. Normalmente guardo os livros inteiros dentro de mim, como uma massa de linguagem única. É difícil de explicar. Mas tem duas frases que eu uso como ponte nas minhas pesquisas acadêmicas:
A linguagem é uma pele: esfrego minha linguagem no outro. É como se eu tivesse palavras ao em vez
de dedos, ou dedos nas pontas das palavras.
Roland Barthes
Não podemos escrever sem a força de um corpo.
Marguerite Duras