7 dias no Marrocos

por Gabrielle Estevans

Se o Marrocos fosse um rosto, seria uma luz, uma palavra
do tempo, deriva das estações, enigmas das pedras.

Meu país é uma infância que atravessa as muralhas e
os séculos, guardada por um céu carregado de pássaros
de passagem, sinais do longínquo.

A terra, nunca emudecida, sabe esperar e dançar sob
os pés das mulheres.

O sol lentamente a desnuda enquanto mãos efémeras
deslizam rumo à noite.

A terra, a infância e a lua cheia se encantam com as turbulências, as febres e as cheias dos rios.

E a origem deixa a argila para ancorar nas areias, e as
areias são o Sul, fonte e pátria desta luz desenhando o
rosto do meu país.

E também a dor, as lágrimas no silêncio, os olhos perdidos
no céu, espera cheia de terra úmida.

Há estações onde toda claridade é cruel, chama que desce
dos montes e das lendas, queimando os pés nus dos séculos
onde a história semeia o esquecimento das chagas.

Há dias em que a História fere a despeito dos corpos
de amaro orgulho.

Assim é meu corpo: sombra tresloucada num jardim
de ilusões.

Abril de 1988

Tahar Ben Jelloun, escritor marroquino e vencedor do prêmio literário Goncourt em 1987.

Começo de janeiro, dois aniversários para comemorar e um desejo em comum: no meu caso, conhecer o Marrocos e, no caso do Tom, meu companheiro, retornar ao país pelo qual tinha se encantado em uma trip anterior.

Com os quereres alinhados, partimos para uma viagem curta, de sete dias, com dois destinos específicos no radar: uma primeira parada em Marrakech e, depois, seguir de carro rumo às praias.

A escolha de ficar no Riad Dar Alhambra foi feita pelo Airbnb e se mostrou uma aposta muito acertada. Além das acomodações serem incríveis, o café da manhã (incluso) é uma delícia. Ideal para quem gosta de fugir do « brunch-avocado-ovo-norte-americano ». Está localizado dentro da Medina, pertinho da Madrassa Ben Youssef (vale a visita!).

Tinha todo um roteiro em mente, mas acabei aproveitando os dois (poucos) dias circulando de forma livre pela região. Marrakech tem muitos estímulos — sons, cores, cheiros, sabores — além de muitas possibilidades de programas culturais e de entretenimento. Como dois dias era pouco e passaria rápido e rasteiro, a melhor opção foi se deixar levar pelo fluxo da cidade.

A Medina é um lugar maravilhoso para você fazer isso. Encontrar artesãos e artistas, ouvir histórias, aprender coisas novas. Vale provar as especiarias, admirar-se com a obra de arte da tapeçaria e se esbaldar nos pães marroquinos. O mahrash é meu preferido. Feito de cevada, é normalmente assado, mas pode ser reaproveitado frito depois. Comprava para comer de lanchinho durante o dia e seguia ótimo até o último minuto.

Entre os restaurantes, Terrasse Bakchich. Local, orquestrado pelo próprio Bakchich, ganhou páginas de jornais internacionais sem nunca perder a essência. No mais, o básico: beba chá, coma muitas tâmaras e experimente o cuscuz e a tajine.

segunda parte: praia

A escolha pela praia como a segunda parte da viagem foi feita com um critério básico: ondas.

Imsouane, en Agadir, é conhecida como a região com uma das ondas mais longas do continente. Seu nome, aliás, significa « a onda que bebe », em referência à baía onde o mar corre.

Como hospedagem, a escolha foi pelo The Ō Experience, uma antiga casa de pescador reformada e que tem uma das vistas panorâmicas mais lindas que já presenciei.

De lá, é possível partir à caça de praias com outros tipos de onda. Não fica tão perto de pontos interessantes — como o Anchor —, mas nada que ir preparado para passar um dia fora não resolva.

Imsouane é uma vila pequena, mais isolada e, por isso, absolutamente calma (por enquanto!). As poucas hospedagens costumam ter programações interessantes para quem gosta de um dia a dia mais relax. No The Ō, por exemplo, a Karol de Souza estava oferecendo um retiro de yoga. Não cheguei a fazer porque começou um pouco depois da minha partida, mas a proposta era superbacana.

Além de ler, descansar e apreciar a paisagem, também visitei o Souk El Had (uma espécie de mercado público brasileiro) e o Paradise Valey. Esse último tem cenário cinematográfico, mas saiba que, dependendo da época, o prometido banho em águas cristalinas não será possível. De qualquer forma, vale a caminhada.

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